Speaking khmer!

Como vou ter saudades destes sábados onde acordo as 6 da manhã para ir cortar cebolas. Provavelmente compensarei com sábados em que me deitarei por essa hora.  

Hoje foi dia de touch a life. Dei por mim, às 7h da manhã, a chorar juntamente com uns quantos malaios (a cebola é tramada). Muito simpáticos mesmo, dei-lhes uma espécie de aula de português. Além dos malaios, estavam também 2 irlandeses por lá. Um foi o meu companheiro na tarefa do arroz. Se eu tinha a t-shirt colada ao corpo com manchas de suor, imaginem como estava a do pobre rapaz. Não foi preciso chuva para o desgraçado ficar ensopado. Além do arroz, no touch a life também já sou da casa. Já explico aos novatos o que devem e como devem fazer, já trato do pequeno almoço para os voluntários e de alguns processos logísticos. Hoje andei a carregar sacos com 25 kgs de arroz. Mais uma vez, não deu para a ir à vila. Éramos demasiados e não há lugar para todos. Quando assim é, a prioridade recai em quem não pode repetir e nunca foi. Talvez no próximo sábado.

À hora de almoço, ainda no touch a life, fui brincar com os miúdos que lá estão. Não falam nem percebem nada de inglês, eu não falo nem percebo nada de Khmer (quer dizer, já sei umas coisas como irão ter o prazer de ver) mas entendemos-nos muito bem. Ficam as fotos e mais uma história que custa muito ver e ouvir. 

Estão a ver a rapariga que aparece na foto? Não consegui decorar o nome porque é daqueles impossíveis de dizer. Há alguns anos atrás ia recolher o lixo na rua para ganhar algum dinheiro. Numa das recolhas, fez uma ferida na perna. Infectou, infectou cada vez mais e actualmente, têm uma perna gorda e toda torta, que impressiona quem vê. Já não têm pé e tem muitas dores. Brevemente será operada, a perna vai ter que ser amputada. Esta rapariga não tem mais que 12 anos. Além disso, é pobre, mulher e órfã. Ou seja, têm as 3 coisas que lhe garantem que será discriminada onde quer que vá no Camboja. A rapariga é um amor, teve demasiado azar na vida e, por mais que me custe, não posso fazer muito mais por ela do que dar-lhe um equipamento do Benfica. Que raio de Mundo este onde vivemos.

Ao fim da tarde fui ao mercado. Fui com os outros portugueses, mas eles foram logo embora. Eu fiquei com os benfiquistas, comemos mais uma pizza, vedemos mais umas coisas e parvejámos o resto do tempo. No meio da brincadeira, um pequeno, no seu inglês limitado, diz-me “I like you so much. When you go to Portugal, I cry”. A resposta foi: “If you cry, I’ll hit you” (na sequência da brincadeira do “if you don’t buy, I’ll hit you”). Teve que ser, são crianças. Contudo, são daquelas frases que ficam e não, não posso sequer pensar no momento em que tiver que me despedir dos meus pequenos benfiquistas. Deve ser isso que me tem deixado doente.Aproveito para informar que tirei fotos aos desenhos, brincos, pulseiras e colares. Aos interessados, que são muitos, gostava que me dissessem aquilo que querem o quanto antes para eu comprar gradualmente. Entrem em contacto comigo, eu envio as fotos para escolherem e trato da compra. Antes demais, obrigado a todos.

Por fim, uma das brincadeiras com os miúdos é serem eles os professores e ensinarem khmer ao teacher Zé. Deixo-vos com os vídeos que demonstram como sou muito melhor aluno que professor. Em minha defesa sei mais coisas, mas a câmara intimidou-me. 

P.S.: Não ligo muito a fotografias, durante estas 3 semanas já me escaparam grandes momentos. Ao que parece, à minha colega não escapa nada. Sempre de máquina na mão pronta a fotografar. Enviou-me algumas relativas ao dia de ontem, na brincadeira das mochilas e das motas, enjoy!