terça-feira, 11 de agosto de 2015

Primeiro balanço

A aventura já vai em mais de metade, o tempo passou a correr. O balanço não podia ser mais positivo. Estou contente com tudo o que já foi feito, estou entusiasmado com que ainda há para fazer. Conheço-me bem melhor que aquilo que conhecia, conheço bem melhor muitas pessoas que me rodeiam em Portugal que aquilo que conhecia. Cresci muito, mudei bastante. Um mês passou e parece que todas as minhas prioridades já foram questionadas, todos os meus problemas já se tornaram pequenos e, ridiculamente estúpidos. Lidei com situações que nunca pensei lidar, vivi momentos que não contava viver. Mais importante, conheci pessoas que não esperava conhecer, que simplesmente pensava que não existiam. Pessoas que me devolveram esperança na Humanidade. Essas pessoas, 15 pequenos grandes benfiquistas, deram a palavras como partilha, generosidade, amizade, entrega, união e irmandade uma nova dimensão no meu dicionário. Ensinaram-me novas formas de viver, a transformar dificuldades em sorrisos, a ser feliz com pouco. Aliás, com muito, com o que realmente importa.  Ensinaram-me o que realmente importa.
Cresci mais neste mês do que em anos de vida. Ao mesmo tempo, voltei a ser criança. Voltei a chafurdar na lama, a saltar nas poças, a jogar à apanhada, às escondidas, a transpirar e cheirar mal todos os dias. Voltei a rir, a rir muito. Estou num mundo à parte, mas um mundo bem mais alegre. Um mês com 15 pequenos grandes benfiquistas chegou para me sentir mais à vontade na Kilt do que em qualquer outro lugar. Juntos falamos todas as línguas, criamos códigos, trocamos sorrisos e gargalhadas, descobrimos coisas. E nesse caminho somos verdadeiramente felizes. Todos brincam o teacher Zé, todos falam sobre o que querem, todos mandam as suas piadas, todos se riem das minhas. Os alunos novos continuam a chegar, hoje apareceram mais 2. Dei show de beat box (muito se riram eles) depois de ter afirmado que, tal como eles, também andava a treinar todos os dias… na casa de banho. Joguei ao jogo de quem não sabe o nome das frutas em inglês, leva um banho de água (não potável, óbvio). No fim, o mais encharcado era eu. No fim, após a outra professora ir embora, também me fecharam o portão para que eu ficasse lá retido e ofereceram-me uma poça de água para dormir (a coisa resolveu-se com a abertura do portão em troca de gomas para todos). Sinto-me muito querido e acarinhado por cá. Isso é o que realmente importa e não há dinheiro nenhum que pague.
Aos meus amigos que seguem o blog porque têm vontade de ter uma experiência deste género, não pensem 2 vezes e façam. Falem comigo antes de o fazerem que só se for mesmo impossível é que não acompanho. Aos que nunca pensaram nisso, que pensem. Aos que dizem que não têm estômago, estejam 3 dias a comer como esta população come e percebem logo que o têm. Aos que dizem não ter coragem, dou 3 horas nesta realidade para perceberem que corajosos são aqueles que sorriem para a vida quando esta, nada lhes dá. Aos que não têm dinheiro, dou 3 minutos por cá para perceberem o que é realmente não ter disso. Felizmente é possível ser voluntário de vários formas e em qualquer lugar, portanto deixem-se de mer***. Tenham o atrevimento de ser voluntários, mas nunca tenham a ousadia, que eu tive, de achar que podem mudar o mundo. Tive a ousadia de achar que podia contribuir para um mundo melhor, quando agora percebo que é gigante o que se recebe mas muito, muito pequenino o que se deixa. Sejam voluntários, aprendem verdadeiras lições de vida mas não tenham expectativas de mudar a realidade que encontram. Até porque cedo percebem que o essencial não é pertinente de mudança. Pessoas com valores, carácter, alegria e muita vontade de viver.

Sejam voluntários mas, por favor, voluntários a sério. Muita coisa já me deixou revoltado por cá, mas não há nada mais revoltante que ver pseudo voluntários cuja missão é ganhar likes no instagram ou facebook. Nada me revolta mais que a procura constante pela foto mais chocante e, posteriormente, ver miúdos, como os meus pequenos grandes benfiquistas, completamente expostos nas redes sociais, acompanhados pela frase feita. Aos que precisam de mostrar ao mundo que são generosos usando miúdos para isso ou que vivem da atenção que têm nas redes sociais, falem comigo que eu poupo-vos o trabalho. Mando fotos, e até procuro a frase feita para derreter corações. Assim, escusam de vir e ser ridículos!

1 comentário:

  1. Desculpa lá a(s) frase(s) feita(s), mas é de um poeta que eu muito admiro (Fernando P.). Penso que se aplica verdadeiramente ao que hoje escreveste:
    "Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu."

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