domingo, 23 de agosto de 2015

Sábado é sinónimo de touch a life

Sábado é sinónimo de touch a life. Acordar as 6h da manhã para passar a manhã a cortar vegetais e empacotar comida. Com o ambiente que por lá se vive, muitas saudades vou ter destes sábados ao som de abba. 
Fui à vila entregar comida. 6 semanas depois, voltei ao local do crime. Foi diferente, claro. Já sabia para o que ia, já levo semanas no Camboja, já vi e vivi demasiadas coisas, já me indignei demasiadas vezes.
Ainda assim, há coisas que não dá para ficar habituado, não dá para ficar indiferente. Não há como não sair de lá completamente revoltado com a humanidade. Crescemos tanto naquelas 3 horas!
Eu fui no tuk-tuk. É preciso sempre um homem para ir lá atrás a segurar o arroz e servir de burro de carga. Foi esse o meu lugar. Perdi a aventura da viagem até à praia, onde por norma mal cabemos no carro, tive esta. Não sentia as pernas das caixa que levava em cima. Também não me conseguia mexer lá dentro, pelo que só sai do tuk-tuk apenas na ultima paragem. Nas outras, e devido também à trovoada que estava, não vi nada. A comida que era destinada àquelas pessoas de pele e osso, cujas costelas se salientam no corpo e mal se conseguem levantar, foi entregue mas não por mim. Não as vi. Arrisco-me a dizer ainda bem, já estou naquela fase em que penso já chega, já chega de revolta, de ver imagens incríveis sem nada conseguir fazer. Aquela fase em que quero uns dias para meter ideias em ordem, longe desta aflição constante. Enquanto estava no tuk-tuk, com uma chuva torrencial lá fora, lembro-me de  ver dois miúdos, à chuva apenas com uma t-shirt velha vestida e a tremer de frio. Simplesmente não tinham um tecto para os proteger da chuva, um casaco para combater o frio ou o que quer que fosse. Enquanto o tuk-tuk ali esteve parado, eles não pararam de tremer por todos os lados, agachados e dobrados do frio que tinham. Tinham uns 10 anos os dois e acho que nunca me esquecerei deles.
Ultima paragem da entrega. Aquela com centenas de crianças e onde a chuva deu tréguas. Miúdos a correr atrás do tuk-tuk numa excitação enorme. O da frente caiu e, consequentemente, todos acabaram por aterrar no lamaçal. Enquanto uma criança normal chorava pela queda que deu e o estado em que ficou no meio do lamaçal, a criança Cambojano ri-se, levanta-se e segue a sua corrida. Tive que ficar no tuk-tuk a preparar as refeições para alguém as entregar aos miúdos, Quando finalmente acabou, já naquele estado em que a minha t-shirt é uma mancha  de suor, foi tempo de sair do tuk-tuk e fazer o que quisesse por lá. Fiz o que mais gosto, meter-me com as crianças todas e parvejar. Fui o único. Andaram nas minhas cavalitas, andaram a rodar agarrados aos meus braços (a brincadeira do video de ontem), cantaram-me uma musica em khmer, disseram-me os seus nomes e idades. Pelo que riram nos nomes, deviiam estar-me a dizer em Khmer que se chamavam cocó ou coisas desse género. É fácil entreter estas crianças, chega dar-lhes o mínimo de atenção e não discriminá-las pela roupa, ou falta dela, que têm, as feridas ou as doenças que carregam. Atrasei aquilo tudo, chegámos 1 hora mais tarde que o normal a casa, para andar a entreter os miúdos. Jogámos a tudo o que era jogos e fizeram o que sabiam. No fim, fui o único voluntário com direito a abraços da parte deles. Estava deliciado, quem via também. No regresso, os colegas do touch a life felicitaram-me pelo jeito que aparentemente tenho com os miúdos, comentavam como tinha uns 20 miudos à minha volta  rir das parvoíces que fazia. A Mavis, a responsável, comentou novamente o Zé completamente diferente que ai está. Fiquei todo babado, mas completamente frustrado novamente. Afinal, 1 hora a rir é a única coisa que consigo dar a crianças que não têm comida para comer, um tecto onde dormir, um casaco para combater o frio ou uma família para olhar por eles.

Sem comentários:

Enviar um comentário