quinta-feira, 13 de agosto de 2015

À descoberta da casa nova!

Mais um dia surreal. A meio da aula da manhã, enquanto os pequenos copiavam um exercício, fui falar com o Bel. Ele pediu-me ajuda com a casa nova, querem mudar ainda este mês.
Perguntou-me se podia ir lá com ele para ver o espaço. Disse logo que era só acabar a aula e seguíamos. O espaço é mais pequeno, tem uma casa com 2 quartos e nada mais. Estão no 1º andar, no piso debaixo há apenas os pilares. Por cá é típico assim por causa das chuvas. Ao que parece, vou ser eu o engenheiro e arquitecto da obra! Faltam 3 quartos para deitar todos os pequenos grandes benfiquistas, uma sala de aula, uma cozinha e uma casa de banho. O Bel falou que também queria ter uma espécie de enfermaria, um sítio pequeno apenas para guardar os medicamentos e ajudar a tratar as infinitas feridas que as crianças vão fazendo. Fiquei de pensar no assunto, amanhã já entrego 3 propostas de como encaixar tudo aquilo por entre as árvores, ele quer que seja eu a montar o puzzle. Este fim-de-semana começamos a erguer a nova casa.
À tarde fui dispensado da aula, ficou a outra professora com as pequenas que, aparentemente, estavam terríveis e nem um exercício fizeram. Eu voltei à casa nova com o Bel e o rapaz mais velho. Os 3 numa mota, mais baldes transportados pelo Bel, uma vassoura e um machado que levava eu. De machado na mão, no meio do transito de cá estava capaz de matar alguém.
Começámos a limpeza. Na casa eram bichos por todo o lado, mosquitos atrás de mosquitos, aranhas atrás de aranhas, teias atrás de teias. Com baldes de água e uma vassoura, limpámos aquilo tudo, eu e o Sovenn (rapaz mais velho), o Bel com uma perna a menos só conseguia encher baldes de água. Começámos por atirar água para as paredes. Seguiu-se o tecto, onde, claro está, a água que mandávamos caia sobre nós. A diferença é que voltava preta e cheia de bichos (a t-shirt de hoje já está no lixo). Seguiram-se as vassouradas, no tecto, nas paredes e no chão, por dentro da casa e por fora, para tirar a bicharada toda. Depois de infinitos banhos de água nojenta, depois de inúmeras picadas da bicharada (não há repelente que me valha), depois de 10 garrafas de água bebidas… a casa não ficou a brilhar, mas ficou habitável. Ainda assim não me queixo, o que me ri com o mais velho a mandar água ao tecto na zona onde o outro estava para o ver a tomar banho de uma espécie de sopinha castanha, temperada com aranhas e mosquitos, compensou o esforço. Voltei à Kilt e os miúdos simplesmente mandaram-me ir tomar banho. Vindo de quem vêm, estava mesmo bonito.

Antes da limpeza


Antes de limpeza, parte 2







Pós limpeza

Ai está ela


Sábado há mais limpeza e começa-se a construir o centro de estágio do seixal Cambojano (só lá dormem benfiquistas). Estou entusiasmado mas com algum receio. O objectivo desde o início sempre foi deixar os meus pequenos grandes benfiquistas melhor de que quando os encontrei. Com boas memórias, com mais um amigo e, acima de tudo, com melhores condições. Temo que a último ponto não aconteça. Ainda que as paredes sejam placas de metal e os pilares troncos de arvores, uma casa é uma casa e para uma casa e é preciso dinheiro. Não falo de sofás, armários, moveis, maquinas de lavar, camas com colchão ou de um chuveiro. Mas é preciso cimento para elevar o chão e combater as cheias, é preciso madeira para esse mesmo chão, é preciso mais placas de metal para as paredes e tecto (as boas serão reutilizadas, mas na Kilt há muitas que já não estão capazes de nada), é preciso o mínimo dos mínimos e, não sei até que ponto há papel para isso. Força de vontade, essa não falta. De manhã, depois de vermos a casa nova, passámos por uma loja de matérias de construção. O Bel entusiasmou-se com as sanitas, quer uma. Ficou super desiludido ao ver que a mais barata custa 62$. Aquela coisa que nem sei o nome, apenas com o sítio para meter os pés e fazer as necessidades de pé, custa 9$. Provavelmente, vai ter que ser essa. Fomos ver também da madeira e do metal, a madeira não sei, no metal cada placa custa $3. Fomos ver também as banheiras, aquele poço onde eles metem água e depois com um balde vão tirando para tomar banho. Essa, o meu grande amigo Hugo Ribeiro, sem saber, com o dinheiro que me fez chegar, já a pagou. Obrigado Hugo, belo investimento. Acabaste de oferecer o mínimo de higiene aos miúdos por vários anos. Vários anos porque ao contrário de todos os outros espaços, aquele é mesmo deles e não terão que voltar a mudar de casa. O que ali se fizer até ao fim do mês, ficará para sempre. Maior motivação que essa não há. Ainda tenho algum dinheiro daquele que me foi chegando de Portugal. Ainda temos uns dias de mercado para continuar a bater records de vendas. Ainda temos uns dias para ter ideias para angariar dinheiro. Conto com vocês para isso. Qualquer ideia ou sugestão é muito bem-vinda, façam-ma chegar. Qualquer coisa pode fazer a diferença. Mesmo que renda 3$, pode ser a diferença entre ter um tecto todo coberto ou não. Lembrem-se, talento não falta aos pequenos grandes benfiquistas. Eu ainda acredito que quando tiver que os deixar, chegarei a Portugal com a certeza que eles têm tudo aquilo que precisam para continuarem felizes. Se não conseguir, meus queridos pais e avós, tenho que cá voltar para completar a missão. Se conseguir, meus queridos pais e avós, tenho que cá voltar para certificar-me que realmente consegui. O aviso está feito, a ver se da próxima não ficam a saber da novidade nas vésperas. 

1 comentário:

  1. Após ler o teu "post" de hoje e de ter falado contigo via skipe, mais vale brincar do que comentar...

    Fazias cá falta, a sala foi pintada e nem sabes o trabalhão que deu, estás preparado para o que der e vier, eu não. Já há muitas coisas que custam. Quando fores visitar o centro de estágio de seixal cambodjano, avisa com algum tempo de antecedência para que eu te dê algum treino.

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