Manhã de gajos!

Mais um dia a madrugar, desta vez para ir visitar os dois pequenos grandes benfiquistas que não estão na Kilt. Fui eu, o irmão deles, os dois rapazes que mais se davam com eles (uma questão de idades) e o mais velho que também quis ir. Fomos cedo para termos tempo de passar pelo mercado e comprar comida, de brincar com eles e regressar a horas de almoçar e da escola à tarde. 

Comprámos pão para comer enquanto lá estávamos e sumos de laranja. Para ficar lá de reserva, 10 kgs de arroz, latas de atum, açúcar, sal e um óleo qualquer para fazer o arroz. A seguir, levei com mais um lição de solidariedade e companheirismo dos meus mestres benfiquistas. Os miúdos na Kilt, por vezes, recebem algum dinheiro, ainda que sejam 100 ríeis (equivalente a 2,5 cêntimos) para comerem uns gelados de fruta que muita gente vende por cá. O Sarath nunca mais comeu, optou por poupar para comprar roupa aos irmãos. Uma t-shirt para o mais velho e um equipamento do "Benfica" (Manchester City) para o outro. Aquele cor de rosa que é o mais barato. O mais velho, Sovann, a meio do caminho pediu-me para esperar por ele. Parou numa barraquinha para comprar um sumo (de feijão!). Percebi o acto dado o calor que estava. Fez-se confusão quando ele pede um saco com gelo para o transportar. Lá me explicou, os de laranja que eu tinha comprado eram para os pequenos, aquele, pago por ele, entregou-o directamente à ex-cozinheira.

Os 5, distribuídos por 4 bicicletas, pedalámos então. Das 4, apenas uma está boa (a única que não permite levar mais ninguém). O pneu de trás da minha já deu o que tinha a dar, vale o da frente para aquilo andar. As outras duas bicicletas têm uma corrente a soltar-se volta e meia ou pneus furados.  Um dos miúdos tem que pedalar de pé. Esta noite não choveu pelo que parte do caminho foi em areia. O calor também não deu tréguas. Ao fim de mais de meia-hora naquilo, com uma passagem pelo meio de vacas que estavam na estrada  (tipo à açoriano), heroicamente chegámos. Completamente estafados mas chegámos e regressámos.

No caminho estava com aquele nervoso miudinho sem saber bem o que iria encontrar. Além disso, sabia que levava 3 crianças comigo, temia ter que voltar a ser psicólogo. Cheguei e tudo passou. Senti um alivio enorme, tudo estava tranquilo. Não soubesse eu o que o Sarath me contou, diria que os rapazes estão óptimos. Eu fui o primeiro a receber abraços da parte deles - o mais pequeno teve sem exagero 2 minutos abraçado em mim sem qualquer reacção. Depois fizeram uma festa com os amigos, estavam todos numa excitação doida. A atracção era a bicicleta nova. Enquanto um a experimentava, os outros corriam numa alegria enorme atrás dela. Entreguei a comida que tinha. O mais pequeno agarrou-se ao sumo de laranja e ao pão de forma comovente. Estávamos todos felizes, brincámos muito. Entre fotos que o mais pequeno adora, gritos de Benfica, exercícios para homens que eles adoram mostrar os seus músculos, corridas loucas ou jogos de berlinde, a manhã foi duma alegria extrema. Eu adorei e fiquei bem mais descansado, parece que me tiraram 20 kgs de cima. Ainda que tenha sido só desta manhã por voltarem a ver os amigos, os 2 pequenos estavam bem. A mãe deles igual. O corte do rapaz na mão já sarou, tinha levado o kit do enfermeiro Zé mas não foi preciso. As fotos e vídeos falam por si.

Foto só de gajos!

À tarde, de regresso à Kilt foi dia de mais brincadeira. Sexta-feira não se dão aulas. Se ontem fiz teatro com um sapo, hoje foi com um gato. O tal que veio do restaurante e que se recusa a sair do quarto com medo dos cães. Também brinquei ao matar piolhos no cabelo duma. Tenho que tratar daquilo. O mais velho também lá estava, ofereci.lhe um bloco com folhas brancas para os desenhos dele. Acámos num concurso a ver quem desenhava melhor uma imagem que tinhamos no computador. Ele ganhou, mais por demérito meu que por mérito dele. Diz que pássaros ainda não sabe bem como desenhar, mas procura na net videos para aprender. Anda motivado o rapaz.

A seguir, fui com o Bel comprar madeira, cimento e pedras. Aos poucos, vamos estando prontos para construir. Falta uma autorização qualquer pois a casa é perto dos templos e não se pode construir ali. Pelo que percebi, os materiais vão de madrugada para a casa nova, quando não houver policia. Solução à Cambojano. As poucas regras que há, não se cumprem...