domingo, 23 de agosto de 2015

O arroz está para o cambojano como o pão para o alentejano

Ontem foi dia de ir para os copos com os outros portugueses do touch a life. Diverti-me à grande, depois duma tarde daquelas, veio mesmo a calhar. Hoje o dia começou tarde e com uma terrível noticia. O regresso a casa ontem foi de tal forma atribulado que hoje, olho para a minha bicicleta e o pneu detrás, que já andava a dar sinal há muito tempo, estava todo rebentado. Impossível pedalar com aquilo assim, lá tive que ir tratar de resolver o assunto. Fiquei então limitado e passei boa parte do dia no quarto. Que remédio. Problem solved e já posso andar à abrir neste transito. Os miúdos, quando fui ter com eles ao mercado, também gostaram da bicicleta. Agora já se podem sentar na bicicleta do teacher Zé quando formos a qualquer lado.
Disse-lhes também que quando fosse embora lhes oferecia a bicicleta. O Sarath tem a dele toda partida. O Somen e o Sopan, de 10 e 11 anos, partilham a mesma. Foi com eles os 3 que falei e foram eles os 3 que, mais uma vez, me deram uma lição de cidadania. O Sarath diz que a dele ainda se aguenta e não quer porque depois os outros podem ficar chateados com ele. Mandou-me dar ao Somen ou ao Sopan. O Sopan disse para dar antes à Sokim, uma das raparigas mais pequenas que já sabe andar mas não tem bicicleta. Eu decidi que a deixava na Kilt e ficava para todos, usava quem precisasse quando precisasse. Em dono ficaria o Somen que, daqueles 3 é o que não tem e anda sempre à boleia do amigo. A resposta dele foi de ficar de boca aberta. Do nada diz-me para dar antes à mãe do Sarath, que fomos visitar na sexta. Os amigos já têm a que eu lhes comprei mas a senhora, ex-cozinheira deles, não tem e precisa. Um miúdo de 11 anos do nada, decide oferecer uma coisa que ele próprio não tem e também precisa à mãe dos amigos por achar que precisa mais que ele. Tudo dito sobre os pequenos grandes benfiquistas.

Entretanto, vou aproveitar o dia desinteressante para falar sobre a minha alimentação (ou falta dela) por cá. Tema que tanta gente me questiona.
Em Portugal comia a toda a hora, 7 ou 8 vezes por dia se fosse preciso. Aqui, como 3 e mesmo assim dou cabo da carteira (e dos intestinos!).
Siem Reap vive do turismo, há restaurantes por todo o lado. Porém os do centro e mais turísticos não são para a minha carteira. A minha carteira gosta é dos mercados e dos carros ambulantes com comida, cheios de moscas e que passam o dia ao sol. É barato e até consegue ser bom, mas é caganeira certa e sabida.


Para pequeno almoço já não sei que mais inventar. Já tentei leite com cereais mas, sem frigorífico, o leite ao fim de 2 dias está estragado. Tenho comido pão e água, nada mais. Qualquer coisa para meter no pão estraga-se com o calor ou chama ainda mais bichos ao quarto. O pão também não resiste muito tempo.
Almoço e jantar é quase sempre fora. A alternativa são latas de atum e já chega.
Por cá, os locais comem cedo. Eu também. Saio das aulas com fome e vou almoçar. Ao fim da tarde, 7h normalmente, também já estou a jantar. É o mesmo que dizer que ainda vocês não almoçaram, já eu estou jantado. A faca não existe. Quando há talheres (por vezes dão apenas pauzinhos) é colher e garfo.
E agora o que mais interessa, em que consiste a comida que meto à boca. Cão, insectos? Nada disso. 
Ao início não arriscava, vinha demasiado recomendado e andava sempre nas pizzas, cheeseburguers ou carbonaras que todos os restaurantes têm. Ao fim de uma semana fartei-me. Agora, como os portugueses que cá estão dizem, escolho sempre as coisas mais esquisitas da lista. Nunca mais pedi nada oriental, gosto das coisas locais. Gosto de experimentar tudo. Já tive surpresas desagradáveis, com pratos que tive que empurrar com água para ir para baixo. Já tive surpresas bastante agradáveis. Sopas e saladas já sei, não vale a pena tentar que vai ser mau. O resto, por norma, é bom. O picante é uma constante. O arroz está para o cambojano como o pão para o alentejano, sempre presente na mesa. O fried rice, spring rolls e noodles estão para o cambojano, como a açorda para o alentejano. Não são grande coisa, mas comem-se bem e como com bastante frequência. A fruta é outra. Vende-se por todo lado, assim como sumos. Manga, ananás, melancias, bananas (super pequenas) são, a par do passion fruit e dragon fruit, o que mais se vê. Estes dois últimos, é uma fruta que não há por aí mas com muita pena minha. É óptimo.
Seguem alguns exemplos daquilo que já mandei cá para dentro.






















4 comentários:

  1. Alguns pratos até têm bom aspecto, outros: sem comentários! Quando vieres traz um livro de receitas para te fazer uns acepipes.Mas quando cá chegares terás uma açordinha alentejana com pão .

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  2. Se quiseres começar o dia de forma mais suave e tratando algumas das loucuras do dia anterior, experimenta passar a beber chá logo de manhã. Também facilita andar sempre com uns pacotinhos ao longo do dia. As bebidas quentes são as que acalmam os intestinos, e as inflamações em geral, saciando mais que muitos sólidos. Quanto ao leite, esquece isso, faz mal aos animais adultos, gordura animal pura sem muito mais contrapartidas. Já viste algum elefante adulto a beber leite ??? Pois, e olha que não estão debilitados... Tea is the Key !

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    1. Para o chá é preciso água quente. Se tiver disso para tomar banho já me dou por satisfeito. Ainda assim obrigado pelo conselho.
      Quanto ao resto, nunca vi um elefante adulto comer carne grelhada. Ainda assim, lembrando-me do ultimo jantar em solo português, gostava de repeti-lo.

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  3. A comida, alguma parece bastante apetecível, outra nem tanto. Mas tal como no restaurante "Chez Carmo" toda a ementa pode vir a ser sempre uma surpresa (agradável, ou não, também).
    O conselho do Ric Kastedo, parece-me bastante sensato, embora eu nunca tenha visto elefantes adultos nem a beber leite nem chá.
    Relativamente ao episódio que relataste do "touch of life", a Mã Carmo ontem também caiu na passadeira da praia, mergulhou para a areia, que lhe suavizou a queda e parecia uma "piquena" a rir...nada de grave, só um arranhão que já desapareceu, entretanto.

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