domingo, 16 de agosto de 2015

Dia de fantasmas

Quem corre por gosto não cansa. Pura ilusão, cansa e não é pouco. Por gosto, aguenta-se. Se ontem acordei as 6h para ir para o touch a life, hoje eram 5h e estava a pé. Tudo somado, tive 9 horas de sono este fim-de-semana, aqueles dois dias em que é suposto descansar e turistar. Parte mais engraçada, hoje as 2.30h de cá, há um Benfica para ver ou, pelo menos, tentar. 
Cheguei à Kilt ainda cantava o galo, os pequenos grandes benfiquistas já estavam mais que acordados. Era uma manhã de rapazes, para o qual fui convidado. Fomos para a casa nova tratar de limpar a porcaria acumulada no chão.
Antes disso, uma história engraçada para começar bem o dia. Algumas das raparigas estavam no quarto de manhã e eu, quando chego, faço por ir cumprimentar todos. Quando me dirigia ao quarto fui aconselhado pelos rapazes a não entrar. Queixavam-se do cheiro com que tinham dormido e que ainda não tinha passado. Como é que eu explico o sucedido sabendo que muitos de vocês lêem isto à hora de jantar? Ora bem, se os rapazes são corajosos e, quando lhes dá vontade de ir mudar a agua às azeitonas, não têm medo de ir até à casa de banho a meio da noite, ainda que esta seja na rua e esteja tudo completamente às escuras, com as raparigas a situação é distinta. Todos acreditam em fantasmas, ainda hoje o rapaz de 16 anos afirmou ter visto um em pequeno, pelo que elas optam por desaguar sem sair do quarto. Os quartos ao fundo têm uma parte onde não há madeira no chão, útil para estas situações de emergência. Realidades diferentes, miúdos entregues a eles próprios, tinha que dar nestas coisas. Eu ri-me para dentro e agi como se fosse a coisa mais natural de sempre. Mãe, estou a ponderar colocar um bocado de terra no meu quarto aí em casa. A ideia de dar 2 passos e despejar agrada-me.
Mijadelas à parte, 7h da manhã já os rapazes estavam a caminho da casa nova. Pelo meio comprámos pão porque não tinham comido nada, não havia comida na Kilt. A viagem é longa, meia-hora de bicicleta mas todos iam rindo com o friend Zé (substituímos o teacher) que ia dizendo olá em Khmer a todas as pessoas com que se cruzava. Os pequenos adoraram a brincadeira e gozavam muito com o sotaque. Acho que as veias alentejanas se fazem notar mesmo em Khmer.
Na casa nova, com umas vassouras improvisadas feitas de raminhos de árvores, vá de limpar. Todos a cantar para começar bem o dia. Há muitas árvores de frutos por lá, o que é óptimo. Volta e meia estava um deles em cima duma árvore a comer. Lixo acumulado, foi hora de puxar fogo a tudo e esperar para ir embora. Eu adormeci a meio da espera, já não preciso de almofada nem colchão. Acordei com eles a queimar-me o pé com o isqueiro. Brincadeira engraçada. A seguir, andámos no meio da fumarada a fazer de fantasmas. Reza a lenda que quem brinca com o fogo faz chichi na cama. Se hoje estava como estava, não quero imaginar o cheiro daqueles quartos amanhã.




Equipa das limpezas!
Regressei à Kilt todo porco (daqui em diante acho que dou a noticia quando andar limpinho, poupa-me trabalho). Mais uma t-shirt que ainda não está no lixo porque às tantas estou a esgotar o stock e preciso dela, mas não volta a Portugal. Apesar da porcaria acumulada, as pequenas quando voltei tiveram um ataque de histeria. A brincadeira era abraçar-me e tentar trepar para cima de mim. Enquanto as ia levantando e fazendo com que elas tocassem no tecto, ia ouvindo "I like you Zé". Sabe tão bem, é gratificante...
À tarde, mercado com eles. Não vendemos quase nada, o mercado estava deserto e o menos envergonhado dos pequenos grande benfiquistas, que aborda toda a gente que por lá passe, foi ter com os irmãos mais novos. Aqueles, também eles pequenos mas grandes benfiquistas, que estão prontos para começar a escola e já têm uma bicicleta, "very fast" segundo ele. Valeram uns australianos que ficaram encantados com o sorriso dos pequenos grandes benfiquistas (quem não fica?) e decidiram sentá-los numa mesa e enche-los de fried rice, batatas fritas e calamares. Boa gente aqueles velhotes.

2 comentários:

  1. Um bocado de terra no teu quarto, não concordo...mas tens sempre a varanda, desde que tenhas cuidado com a vizinhança...

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  2. Por mim se quiseres um bocado de terra no teu quarto avisa, teremos de mudar de casa para que o teu quarto fique bem longe do meu e onde eu não possa chegar. No entanto, se não quiseres andar muito, acho que um penico resolve a situação desde que sejas tu a tratar dele ...

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