Esta semana, durante o ensinamento dos verbos, descobri que
os pequenos grandes benfiquistas adoram nadar ou, pelo menos, tentar fazê-lo. Na
verdade, só dois é que sabem. Dado que tenho algumas limitações enquanto
professor de inglês, decidi tentar ser professor de natação. Informei-me e
descobri que aqui nas redondezas existe o "West Baray Lake". É como que o paraíso
local, óptimo para descansar. Um lado enorme, artificial cuja construção remete
para o séc. XI. O programa ficou, desde o inicio da semana, marcado para
domingo. Escusado será dizer que as crianças não falaram de outra coisa durante
toda a semana…
Acordei ainda com febre mas jamais seria capaz de dar o
desgosto de não irmos nadar hoje aos pequenos. Às 9 da manhã estava na KILT. Disse
para eles prepararem tudo, para termos comida para todos e estarem à vontade
que eu pagava isso e o transporte. Assim foi. Logo às 9h estavam eles super
entusiasmados (vieram abraçar-me quando cheguei) e, tinha as raparigas mais
velhas a cozinhar para todos. Estavam a fazer bifes! Aquelas crianças que passam dias e dias a arroz, hoje tiveram direito a carne. A minha doença passou logo.
A seguir à refeição, começou a aventura. Tudo para dentro da carrinha. O rapaz mais velho ao volante, o responsável pela KILT ao lado. Atrás, 2 senhoras
também da KILT e com limitações físicas sentadas e o resto tudo ao molho. Eu, 10 pequenos grandes benfiquistas e os
dois bebés. Se isto já parece espectacular, mais se torna se vos falar um pouco
da carrinha. Fios eléctricos como que ali entre o condutor e o copiloto, assim como, um cabo que liga directamente ao
boião do combustível. Além disso, dois rapazes, dos mais fortes, a empurrar a carrinha para aquilo arrancar. Foi assim que chegámos ao Baray, ou quase. Os últimos metros
tiveram que ser feitos a pé porque a estrada era demasiado inclinada e a
carrinha não dava aquela subida feita.
Baray... à primeira vista, foi como que chegar ao paraíso.
É o mais parecido com praia que há por cá, um lago lindo e enorme, com areia à volta e a água parada, claro está. Sossego, finalmente! Umas tendas, todas elas seguidas, cada uma com 3 redes para nos
deitarmos. Que bem por lá se estava. A água super quente. Eu e os pequenos tivemos
lá dentro quase 2 horas seguidas.
Agora a parte menos boa. Se os insectos, na cidade, estão por todo o lado, imaginem junto ao lago com água quente. Ganhei mais umas boas picadas para a já extensa colecção. A aula de natação teve que ser cancelada. Eu tentei mas a água era de tal forma turva que não se vê rigorosamente nada, ou seja, mesmo que ensinasse os miúdos não conseguia ver na água se a rapaziada estava a fazer os movimentos bem ou mal. Além disso, a água nunca me passou da cintura e… a lama chegava quase aos joelhos. Nunca tinha visto, ou sentido porque para ver não dava, nada assim. Entrava na água, dava dois passos e começava a sentir os pés a afundar mais e mais nunca coisa flácida e muito, muito nojenta. Cinzenta que até os miúdos não gostam, quanto mais eu. Apesar disso, foi uma bela manhã. Os miúdos adoraram, iam mostrar-me os peixes que apanhavam (já mortos coitados) ou punham-se de pé em cima dos meus ombros para se atirarem para a água. Não aprenderam a nadar mas divertiram-se à grande e, mais importante, comeram bem. A seguir ao banho, havia muita fruta, arroz e carne para todos. O dia acabou quando eles, do nada, se levantam e começam a arrumar tudo apressadamente. Falavam em khmer e eu não estava a perceber nada, até que um me diz “rain”. Estava um lindo dia de sol, não percebi o comentário mas arrumei as minhas coisas. Dois minutos depois, uma trovoada daquelas. Mais uma. Escusado será dizer que chegámos todos ensopados à carrinha.
Para acabar apenas partilhar algo que me custou bastante. Dois dos miúdos (dois dos pequenos que mais aparecem nas fotos que já vos mostrei), os meus melhores alunos como eu lhes chamava, abandonaram a KILT. Tratava-os assim porque, apesar de terríveis e de ao inicio não saberem dizer uma única palavra em inglês (agora já diziam as cores, o "my name is...", e as expressões mais frequentes como "drink water", "play football" e Benfica), eram os únicos que iam às minhas aulas da parte da manhã e da tarde (não andavam na escola publica). São filhos da cozinheira e foram os 3 embora, eles e a mãe, ficou o filho mais velho. Não me despedi sequer dos rapazes mas tinha um recado dos amigos. Disseram-me que eles queriam muito ter ido connosco nadar e que, mesmo antes de ir embora, tinham dito que adoravam o teacher Zé. Fiquei emocionado, sem resposta, e hoje percebo o quão difícil vai ser para mim o dia em que tiver que ir embora e despedir-me dos meus pequenos grandes benfiquistas...
Depois desta experiência de praia, quando chegares a Monte Gordo e vires a água cheia de algas não voltes a dizer "que nojo", pensa "estou a chafurdar nelas e não em lama".
ResponderEliminarQuanto à chegada podes ir no teu Renault, no entanto tens um problema que por aí não se coloca à carrinha onde foste: não tens onde estacionar. Em cada local o seu problema...
Já agora não havia "lacostes" no lago?
Nunca mais me queixo das algas não.
EliminarActualmente não existem, acho. Posso tentar informar-me :P
Por falar em Renault, esqueci-me de te dizer que está de ótima saúde. O pai ontem pô-lo a trabalhar e funcionou sem empurrão da mãe e da avó.
ResponderEliminarMeu rico menino. Se ele começar a falhar avisem que eu tento levar na mala o meu meio de transporte local...
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