Na semana passada escrevi sobre o quanto gostava de levar os
pequenos grandes benfiquistas ao circo. Fui lá tentar saber se havia
alguma possibilidade de obter desconto e sai de lá com o mail da organizadora.
Como seria expectável, não me respondeu ao mail. Mas tentar não custa e
perguntar não ofende. Fui então chatear o recepcionista de um hotel que também
vende bilhetes. Expliquei-lhe a situação e o senhor, muito simpático
mesmo, começou uma autêntica maratona de telefonemas. Uns atrás dos outros,
todos em khmer e eu sem perceber nada. No fim disse-me para ir ao circo comprar
os bilhetes, que eu tinha pagar o meu ao preço normal mas eles faziam descontos
aos cambojanos, 3 dólares para menores de 12 anos, 5 para o resto (o normal
seria 12 e 18, respectivamente). No circo, após explicar a história toda de
novo e falar directamente com a responsável, até a mim fizeram desconto e... bilhetes para todos. Comprei-os para hoje, e sim, hoje fomos todos ao circo. Eu e os pequenos grandes benfiquistas. Só
faltou o mais velho que teve que ir ajudar o Bell (responsável pela KILT) e não
se despachou a tempo.
Quando chego à KILT, estavam todos, mais uma vez, super entusiasmados
e a correr na minha direcção para me abraçar. Arranjaram-se e começou a
caminhada. Eu e mais 11, já de noite, a pé a caminho do circo. Dos mais
pequenos, todos queriam ir de mão dada comigo. Eu confesso que tinha algum medo
de perder algum. Chegámos, entrámos e sentámo-nos todos juntos. Pelo meio fomos
dando espectáculo. Afinal eles eram os únicos cambojanos de uma plateia cheia
mas só com turistas, os únicos mais escurinhos e eu, o responsável por eles. As
pessoas olhavam para nós e sorriam de maravilhadas que estavam. Eles, super simpáticos
para todos, retribuíam os sorrisos.
O espectáculo por si merece a viagem até ao Camboja! Em
Dezembro estive no cirque du soleil e, sinceramente, este impressionou-me mais. Neste não há lugar para os efeitos artísticos de luz e som. Não há
protecções, cordas presas ao tecto ou qualquer coisa mais sofisticada. Há sim
um círculo mesmo colado à plateia que não tem mais de 5 metros de diâmetro, 2
pessoas responsáveis por todo o sistema sonoro, ou seja, a tocar vários instrumentos
musicais e a cantar, e 8 artistas capazes de tudo. Fizeram coisas que, até hoje, julgava
serem humanamente impossíveis. Tinham apenas 2 rolos, uma mesa e 8 caixas de
cartão, uma para cada um. Com isso deram mais de uma hora de espectáculo. Não tenho palavras para descrever. Foi incrível. Arrisco dizer que disto não
se vê na Europa. Não tirei fotos porque era proibido e, apesar de muita gente
estar a tirar, eu tenho que dar o exemplo em frente dos miúdos.
Os miúdos esses… um espanto. Pensava que era impossível tê-los
sossegados mais que 2 minutos seguidos, sem conversas ou brincadeiras. Ainda
para mais todos juntos. Estava redondamente enganado. Hora e meia de espectáculo
e todos, sem excepção, vidrados naquilo. As duas mais pequenas apenas se
sentaram no final. Não se ouvia um palavra dos meus miúdos, não viravam a cara
ao espectáculo uma única vez e, mesmo quando toda a plateia batia palmas, eles
nem isso faziam de concentrados que estavam. Olhos bem abertos, olhavam para
tudo absolutamente fascinados. Foi lindo e um orgulho vê-los assim. Apenas no
regresso a casa se queixaram do cansaço. Eram quase 10 da noite, ainda
não tinham comido e a maioria levanta-se as 6 da manhã todos os dias.
Para acabar, posso dizer que mais uma vez, fez-se magia no
Camboja… Ou fizemos. Fiz eu e, principalmente, a minha grande amiga Marta. Foi
ela que proporcionou tudo isto. Tem pouco mais de metro e meio e, actualmente, dou-lhe pouco mais de 40 kgs mas, mais uma
vez, mostrou a grande pessoa que é. Sem conhecer os miúdos, apenas ao ler o
escrevi na semana passada, ofereceu-se para pagar o circo. Eles
agradecem imenso e, sem dúvida, foi um óptimo investimento. Eu, a ti Marta, nem
sei o que te diga para além de um grande obrigado. És enorme!
Olha puto, quando cá chegares vais ter uma tarefa muito difícil: ensinar-me como cativar e ensinar alguma coisa àqueles que, aparentemente, não querem aprender nada.
ResponderEliminarEnfim a ser uma professora totalmente realizada!
A Martinha é linda, e o Zé também!
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