Hoje não vou falar do que se passa aqui no Camboja, mas do
que acontece aí, por Portugal. Um obrigado é muito pouco para retribuir aquilo que tenho
recebido. Ao fim de 3 semanas (como o tempo passa!) estou orgulhoso daquilo que
já foi feito. Foi feito não apenas por
mim, mas por todos nós. Sem todo o apoio, sem a quantidade de mensagens que me
têm chegado, acho que não faria metade. Dizia que vinha sozinho para o Camboja
mas nunca me senti tão acompanhado. Estou a mais de 10000 kms de distância mas
nunca me senti tão próximo de alguns dos meus amigos e familiares. Estou a
dar-me a conhecer e, ao mesmo tempo, pelas reacções e atitudes de cada um,
também a conhecer-vos. Muito mais há a fazer, mas por vossa causa, está cada
vez mais fácil ajudar. Está cada vez mais fácil fazer a diferença na vida destes miúdos.
Agradeço-vos a todos. Todos ajudam, todos têm sido importantes. Mesmo os
leitores anónimos que nem conheço, não sabem a motivação que é, dia após dia, ter mais e mais
pessoas a viver esta aventura comigo.
É bom saber que estou a conseguir fazer-vos chegar ao
Cambodja, mostrar-vos esta tão distinta realidade, dar-vos a conhecer as
crianças mais porreiras que já conheci na vida. Impressionante
como mesmo longe, apenas através de
meia dúzia de fotos, 1 ou 2 vídeos e umas palavras meio atabalhoadas escritas
por mim, vocês, em Portugal, se conseguem emocionar e, começam a gostar dos pequenos grandes benfiquistas e deste povo tanto como eu e, começam a querer contribuir tanto ou mais que eu para
o futuro e felicidade deles. Nos últimos dias
tenho recebido mensagens fantásticas, com gestos bem mais bonitos do que o meu de vir
para o retiro 2 meses.
Obrigado pais. Era para ser tudo por minha conta até
começarem a ler o blog. Decidiram pagar-me a guesthouse e dar-me a
liberdade de, com esse dinheiro poupado, fazer o que bem entender. Em Portugal,
por orgulho, jamais aceitaria tal proposta. Aqui aceitei logo porque a poupança
vai ter o melhor dos destinos.
Obrigado tia Maria e tio Ricardo, incrível tudo o que têm feito. Em Portugal, ajudaram-me em tudo o que podiam, foram bolas novas para os miúdos, canetas e lápis com fartura. A vossa missão estava mais
que feita. Agora recebo a informação que chega mais uma “ajuda” à minha conta
para gastar com os pequenos. Sem intermediários, para gastar ou
em programas que eles gostem ou em coisas para eles.
Dos meus avós, chegou mensagem igual. Obrigado por isso e
também pelas rezas e gargalhadas que me têm proporcionado quando sei através dos meus
pais que já mexem no computador e quase decoram aquilo que escrevo.
Obrigado tio Zé pelo apoio, pela ajuda com as camisolas do
Benfica e pelo bilhete de avião. Sem esse empurrãozinho acho que o sonho de vir
não tinha passado disso mesmo, de um sonho.
Obrigado Marta, Teresa e Sheila que sem conhecerem as
crianças, ou pagam circos, ou enviam infinitos materiais de inglês e aceitam fazer
gravações para me ajudar na fonética ou me querem pôr mais dinheiro nas mãos
para ajudar as crianças.
Obrigado às infinitas pessoas, e sim, já não faço ideia em quantas vamos, que querem comprar colares, pulseiras ou desenhos aos miúdos para
os ajudar. Vão ter que me dizer novamente, quem são e o que querem, para eu tomar
nota. Temos que começar a tratar de escolher e comprar. Eles fazem a bijutaria à
medida que vendem e, dada a quantidade que está para ser adquirida,
é melhor ser um processo gradual.
Além disso, obrigado a todos os que lêem e têm feito este blog, esta aventura e esta ajuda a estas pessoas crescer exponencialmente. O blog foi criado como uma brincadeira, uma maneira
de “despachar” quem quisesse saber de mim, de ocupar o tempo livre que achava
que ia ser muito (cada vez é menor e começa a ser muito pouco) e de mandar umas
piadas com a tal “essência máxima”. De inicio, o link foi partilhado apenas com
os que me eram realmente próximos. Éramos poucos mais de 30. As coisas foram acontecendo e, hoje, nem sei bem para quem escrevo. Sei
que houve algumas desistências de quem leu alguns posts e nunca mais se
lembrou, poucas. Por cada desistente e desinteressado, surgiram muitos novos
aficionados. Do nada, vejo publicações com mais de 350 visualizações, 350 repito, vejo o
blog partilhado em dezenas de facebooks, vejo textos meus publicados por
outros, vejo os meus miúdos no facebook oficial do Benfica
(https://www.facebook.com/SLBenfica/photos/a.10155749798430716.1073742238.212504785715/10155831082885716/?type=1¬if_t=comment_mention), vejo esta pequena brincadeira começar a ter proporções que nem
no meu melhor sonho (ou pesadelo, depende da perspectiva) imaginava. Está a
tornar-se cada vez maior, está enorme. Mais que enorme, tudo o que se começa a construir à volta desta aventura, está de uma solidariedade imensa. Vossa, não minha.
Como podem ver, está muito fácil para mim ajudar. A culpa é
só vossa. A causa justifica e, infelizmente, nada é demais porque há realmente
muita coisa em falta por cá, tanto aos meus alunos como no touch a life. Já somos muitos mesmo a querer ajudar e a
torcer por estes miúdos. Vou dar o meu melhor, sabendo que são crianças e não
posso, de todo, andar em programas fantásticos quase diariamente com eles para
depois, em Setembro, ir-me embora e voltar tudo ao mesmo. Não posso, nem quero,
mimá-los em demasia. Acho que, bem mais importante que proporcionar-lhes coisas
boas, que também precisam, é garantir que quando for embora eles vão continuar
a comer, vão ter tudo o que precisam para ir à escola, estudar e terão as
condições mínimas e o que precisam para continuarem felizes. Já são muitas ajudas, já vai ser difícil de gerir mas também conto
com vocês para isso. Dada a dimensão, a brincadeira vai ter que começar a ser bem pensada. É desta que o curso de gestão me vai ser útil.
Por agora, partilho algumas ideias que tive e acontecimentos desta semana. Lembrei-me de ir ao mercado com todos os miúdos e oferecer uma t-shirt
nova a cada um. Tirando as camisolas do Benfica, a muito pouca roupa que têm,
está velha e toda rasgada. Fiz a sugestão como algo super bom em que eles, no
meio de muitas t-shirts, iam poder escolher a sua. Nessa altura, a Sochea
pergunta-me se não pode comprar a dela na barraca em frente à deles no mercado onde eles vendem as coisas. As t-shirts que lá vendem são todas brancas e sem piada nenhuma.
Disse-lhe que sim mas perguntei porque é que ela queria aquela e nem queria
sequer ir ver outras numa loja. A resposta foi porque aqueles vendedores uma
vez lhe ofereceram uma aula de dança e ela ainda não tinha conseguido retribuir. Após a
conversa toda das t-shirts, foi a vez do Sarath. O Sarath veio falar comigo e
perguntar se, em vez da t-shirt, não podia comprar uma mochila nova para a
escola porque precisa mais. Mostrou-me a que tem. Está toda rasgada, só
os livros grandes não caem, o resto vai directo ao chão. Fui reparar nas dos
outros e sim, como a do Sarath há muitas mais mochilas. Disse então que em vez das t-shirts, íamos
ao mercado comprar mochilas. Primeiro, rejeitaram porque era demasiado caro. Depois lá expliquei
que era material para a escola que eles precisavam e que o dinheiro não era problema. Após
os convencer (hoje já andei à procura de lojas que vendam mochilas), o Sopan vem mostrar-me a sua mochila, super pequena onde não cabem os livros todos, mas
sem estar rasgada. É aí que me diz para comprar mochilas para todos os outros, menos para ele que a dele está boa.
A Sochea tem 12 anos, o Sarath 13 e o Sopan 10. Acho que não preciso de dizer
mais nada sobre a maneira de ser dos pequenos grandes benfiquistas. Ninguém merece mais do que eles ser ajudado. Além destas crianças, há centenas delas no touch a life... Mais uma vez, obrigado por toda a ajuda!!