5 de Setembro, memorizei esta data desde o dia em que fomos ao circo e
vi, nos cartões que eles têm da Kilt (cá não há B.I.) com as datas de
nascimento, que correspondia à suposta data de nascimento do Soman.
Suposta porque quem fez aquilo foi o Bel que, segundo os miúdos, quando não
sabia inventava datas de nascimento e aquilo está mal. Ainda assim, o Soman não
sabe quando faz anos e, até hoje, nunca tinha comemorado o aniversário. Hoje,
insistiu que continuava a ter 11 anos mas teve direito a festa!
A festa foi surpresa. Combinei com todos os pequenos grandes benfiquistas da Kilt festejar hoje sem lhe
dizer nada. Os últimos dias foram passados aos segredos em frente ao Soman, com
mentiras como “sabado o friend Zé tem coisas para fazer” ou a despedida de
ontem que foi um “see you on Sunday” mas num entusiasmo louco. Eles, miúdos como são, davam imenso nas
vistas com toda a excitação em torno da
festa. O Soman, miúdo como é, nos seus 11 anos não percebeu, apenas amuava de vez em quando
por ninguém lhe contar os segredos (tinha que inventar qualquer coisa sempre
para lhe dizer ao ouvido). Amua muito, está várias vezes triste aquele pequeno grande benfiquista. Hoje
como o mais velho me dizia no mercado, não teve um bocadinho sem um sorriso na
boca. Nunca ninguém o tinha visto tão contente.
Na verdade, a cara dele deu para perceber que não cabia em si de tanta
felicidade. Chego, novamente de bicicleta cheia, com comida para todos.
Correram todos na minha direcção numa excitação parva para começar a festa. Ao
verem os sacos diziam: “full again Zé”. Sim, enchi-lhes a barriga novamente. A
comida era imensa, eles comeram imenso, quase que despachavam tudo. Além da
carne, salcichas, batatas fritas, sumos, pão, melancia, doces e bolo, comprei
balões, espuma para atirarmos uns aos outros no momento dos parabéns e umas
buzinas. Não se calaram com as gaitas a tarde inteira, chego ao mercado ainda
eles andavam a soprar para aquilo.
De prenda de anos dei um relógio, aquilo que muitas vezes ele me falou que queria mas era caro (não foi!). O Soman não parava de sorrir, saltava
de entusiasmo. Caiu numa das brincadeiras e quando ia para chorar, algo usual
nele, levantou-se para continuar aos saltos com os outros. Teve, pela primeira
vez, os seus amigos a cantarem-lhe os parabéns, teve algo só para ele.
Agradeceu-me enumeras vezes, deu-me um abraço enorme, chamou-me de pai. Disse-me que gostava que eu fosse o pai dele. Aquela cara de alegria
com que ele estava hoje vale qualquer esforço ou dinheiro que gastei. Melhor
agradecimento não podia ter.
O resto da rapazada também estava animada, ou mais animada que o normal porque animados estão sempre. Comemos, brincámos,
dançamos, parvejamos. Juntos, fomos e somos felizes. Vivemos e quem vê apenas inveja a relação entre nós criada. O Bel, esse, adora e tira fotos para recordar o momento. Eu e os pequenos grandes benfiquistas inventamos as brincadeiras
mais parvas que alguma vez brinquei. Jogos de apanhada de cabeça para baixo que por certo eram 2 horas de choro num miúdo europeu tal não era o susto, por cá foi um sucesso. Eu que tenha forças para correr com todos. Rimos e gozamos uns com os outros e o
tempo passa a correr. A festa começou as 10h da manhã, acabou às horas de ir
para o mercado. A festa foi, mais uma vez, uma animação.
Lamento não estar por cá nas datas de aniversário de todos
eles e não poder proporcionar um dia especial a cada um deles, que tanto merecem. Levo comigo todas as datas de nascimento (verdadeiras ou não!) para pelo menos mandar um mail e falar no Skype (hoje tratei do Skype deles). Assim, ao menos sabem que nesse dia fazem ou fizeram anos. Infelizmente esta foi a minha última festa naquela casa tão especial para mim. No fim da festa chegou-me essa informação ao cérebro
e senti uma tristeza demasiado grande que os próprios pequenos perceberam… Não quero falar disso. No avião logo tento meter em palavras a angustia que
é ter que ir embora, deixar os meus pequenos grandes benfiquistas e voltar à
realidade onde tenho tudo e mais alguma coisa daquilo que preciso, mas onde
nunca me sentirei tão bem como aqui onde supostamente não há nada. Há pessoas, verdadeiros seres humanos que partilham tudo, vivem uns para os outros e ajudam-se o mais possível. Isso traz muito mais que qualquer dinheiro que venha a ganhar no futuro.
Por hoje deixo-vos as fotos e os vídeos da
festa que mostram que não era só o Soman a não caber em si de tanta felicidade. Tanto ou mais feliz que ele, estava eu. A minha t-shirt também diz uma grande verdade: I <3
Cambodia!
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